sexta-feira, 24 de abril de 2015

Década dos erros



É fato que estamos vivendo uma década do Cérebro repleta de descobertas e avanços, que vem despertando a empolgação dos cientistas e até das próprias pessoas.

Mas como nem tudo são flores, essas descobertas com relação ao Cérebro trazem à tona uma problemática muito presente em nossa sociedade, o determinismo neurogenético. “Mas o que seria isso?” Seria reduzir o ser humano à genes e ao cérebro. “Certo, mas o que isso significa na prática?” Significa que se uma pessoa é gay, é porque ela possui um cérebro gay, significa que pessoas são violentas porque tem um cérebro violento e que as pessoas são negras porque possuem deficiências genéticas. “MEU DEUS! QUE ABSURDO” E não para por aí.

                              

Segundo os deterministas, os problemas podem ser sociais ou biológicos, sendo que os segundos definem os primeiros. Ou seja, os crimes que ocorrem na sociedade são causados por fatores biológicos inerentes aos criminosos e não porque existe uma construção social ou um contexto por trás disso. “NÃO, NÃO, MIL VEZES NÃO, ISSO TÁ ERRADO”. Para eles e para o governo não...para pra pensar: o que seria mais interessante para o governo, dizer que os sem tetos são assim porque eles tem problemas no cérebro ou porque o Estado não possui políticas públicas dignas de resolver tal problema? É óbvio que para o Estado dizer que tudo é problema do Cérebro ou do Gene, ou seja que todos os problemas são de cunho biológico, é mais vantajoso porque tira de suas costas toda a responsabilidade social.
 Quer dizer então que o Brasil é violento por causa do genótipo ou do cérebro da população? “Será que os deterministas não veem o óbvio?” Eles veem e até reconhecem o social como um fator importante, entretanto é melhor para eles sustentar as desigualdades existentes para terem a quem culpar. Outra coisa importante sobre eles: eles adoram números, quantificar é com eles mesmos, amam estatísticas. Engraçado, né? Como eles conseguem reduzir o ser humano (complexo e não reduzível) a meros, números, tabelas e gráficos?
        Será que o Extremista é assim por causa do Cérebro? 

                       Sera que o alcoólico tem um Cérebro alcoólico?  Será que o Cérebro de uma pessoa negra é negro também e menor que o dos Brancos? Será que o racismo também está no cérebro? 

Não estou criticando os avanços ou o estudo do Cérebro, mas estou assim como o autor do texto, dizendo que olhar os problemas é determiná-los em função do cérebro ou do gene está errado. Aí você me diz: “FLÁVIA, NO PRIMEIRO TEXTO DO BLOG VOCÊ MOSTROU QUE O CÉREBRO DE MONGE ESTAVA SENDO ESTUDADO, SERIA ISSO ERRADO?” Não de maneira nenhuma, ali o monge não foi diagnosticado, ele participou da pesquisa por vontade própria e ainda ajudou a construí-la . E em nenhum momento eles disseram “ele é assim por causa de seu cérebro, pela sua construção genética” mas eles analisaram o contexto, o social e as práticas de Öser para tirarem suas conclusões. Agora se pegamos o último texto do Blog vemos que agora os rótulos estão baseados na neurogenética.
E o mais interessante disso tudo é que o autor do texto sobre o qual escrevo estuda o cérebro também, todavia em seu texto ele faz uma crítica ao reducionismo pregado pelo determinismo, defendendo assim um diagnóstico baseado na relação entre os fatores sociais, individuais e biológicos.

Nos últimos textos temos visto o quanto é difícil levar em conta a VARIAÇÃO que existe entre os seres humanos. Não adianta criar rótulos, padrões e estatísticas, porque nenhum é capaz de demonstrar a realidade da natureza humana 100% como ela é. O mais divertido aqui é pensar que a própria estatística leva em conta os erros em suas contagens, erros esses sendo a variação, enquanto que os métodos deterministas não conseguem admitir que o ser humano é variável e não pode ser analisado como algo fechado. POR QUE NÃO DIZER: EU NÃO SEI! Porque não contextualizar tais diagnósticos, por que não ser humanos e levar em conta sua própria experiência como indivíduo variável em diversas características e dizer não à padrões e determinações? Por que?


Referência: Rose S. A. (1997) perturbadora ascensão do determinismo neurogenético. Ciência Hoje, 21, 18-27.

sábado, 18 de abril de 2015

Sobre ser São em lugares Insanos

 (Se a sanidade e a insanidade existem, como nós devemos reconhecê-las?)

        Esse texto é um dos melhores da disciplina que eu já li. Ele vai falar sobre um teste feito por David Rosenhan em 1970, no qual ele procura testar se os psiquiatras da época sabiam diferenciar os sãos dos insanos. Mas espera aí, que eu saiba o certo é o psiquiatra definir os insanos dos sãos, não é? Não exatamente, ele deve ser capaz de executar ambas tarefas e é exatamente isso que David busca questionar com o seu teste. Ok, mas qual é o objetivo deste teste? É simples: ele procura demonstrar o quanto o ser humano é subjetivo e complexo, sendo a tarefa do psiquiatra o diagnosticar considerando tais características.

                        Mas não era isso que ocorria...

        Em uma viagem feita ao Vietnã, David observou que muitas pessoas fingiam estar com esquizofrenia para não serem convocadas para a guerra e acabou intrigado com esta situação. Como eles conseguiram tal diagnóstico? Foi daí então, que ele resolveu chamar 8 pessoas, incluindo ele, para realizar um teste um pouco diferente. As pessoas teriam que ir a um consultório psiquiátrico e fingirem serem insanas, utilizando a desculpa de que estavam ouvindo um barulho e, esse barulho deveria ser definido como “tum”. Mas por que “tum” e não uma outra coisa? Simples, porque este som tão fictício não estava contido nos estudos da psiquiatria da época.



        No dia combinado todos fizeram o que devia ser feito. Relataram o “tum” e uma surpresa: todos foram diagnosticados com esquizofrenia, menos um outro que estava em um quadro de psicose-maníaco-depressiva, ou seja, nenhum teve sua sanidade detectada. E não é só isso, eles ficaram alguns dias internados e puderam observar o quão desumano eram os consultórios. Segundo Rosenhan, os próprios insanos perceberam a sanidade dele, enquanto que os psiquiatras não.
                                            

        Depois de terminado os testes, Rosenhan posta o seu artigo. E o mundo da psiquiatria caí, não em relação à profissão, mas à teoria. É importante deixar claro que com este estudo, David comprovou as falhas da teoria psiquiátrica da época, que era baseada somente em rótulos, não considerando o que há de mais presente nos humanos: a subjetividade. Entretanto, Spitzer, defensor do diagnóstico psiquiátrico, diz que esses estudos são falhos e mal feitos. Mas no final ele acabou reforçando os diagnósticos, para que não fosse possível que erros como os expostos no teste de Rosenhan fossem repetidos.

        Mas é aí que vem a parte mais interessante do texto: a própria autora do texto, resolve refazer os testes de Rosenhan para ver se realmente os diagnósticos estão isentos de erros. E assim ocorreu, ela foi ao consultório e relatou o “tum”. A primeira coisa que ela nota de diferente é o ótimo acolhimento que recebe por parte dos médicos e enfermeiras, diferente do notado por David. Além disso, ela pode perceber que na época do primeiro teste, os diagnósticos eram feitos com base no esquema psicanalítico, mas agora eram as pílulas que os embasava. No final, ela é diagnosticada com depressão. Ela repetiu o teste e no total, ela recebeu muitas pílulas (25 antipscicóticos e 60 antidepressivos). Nossa! Quanto remédio, não é?

   

        E é assim que podemos definir o nosso atual século. Os diagnósticos são feitos com base nas pílulas, você diz o sintoma e o médico te indica um remédio, não é? Mas por que não contextualizar os diagnósticos ao invés de somente rotulá-los? Por que não dizer “não sei” se o psiquiatra realmente não sabem? Por que criar rótulos para algo que não pode ser rotulado, que somos nós, os seres humanos? Todas essas questões são fruto dos estudos de Rosenhan, que vieram revelar a fragilidade da teoria psiquiátrica, além de revelar que na década de 70 o rótulo da moda era a esquizofrenia e agora, é a depressão. Qual será o próximo rótulo?

                

#DIGANÃOAOSRÓTULOS
#MEDITARPODESERASOLUÇÃO
#EDUQUESUAMENTE


Referência: SLATER, Lauren- Sobre Ser São em Lugares Insanos – Experimentos com Diagnósticos Psiquiátricos. Mente e Cérebro, (p.82-115):Traduzido por Vera de Paula Assis.- Rio de Janeiro : Ediouro Publicações Ltda., 20

sexta-feira, 10 de abril de 2015




Hipnose e sua relação com a dor



        A hipnose está totalmente relacionada com a submissão do hipnotizado e se apresenta como uma atividade meramente atrativa nos shows de mágica e ilusionismo, não é? Não, não é. Isso é o que o senso comum te diz, mas esta prática tão pouco conhecida envolve na verdade atividades de alta concentração dos indivíduos, que sofrem alterações variadas em seus sentidos, não ficando totalmente inconsciente, derrubando assim a ideia da relação entre a hipnose e a submissão.

           Mas não se preocupe, eu também não sabia disso. E outra coisa que eu também não sabia é que ela é utilizada em diversos ramos, como na psicologia, tratando traumas e depressões, na medicina, colaborando no alívio da dor e no tratamento de doenças. Incrível não? Você sabia que existe a hipnose anestésica? Pois é, existe e pode ajudar diversos pacientes diagnosticados até mesmo com câncer.
     

        O mais incrível deste texto primeiro texto é que ele discute os estágios da hipnose, que são cinco. O primeiro é o hipnoidal, que altera a respiração da pessoa, o segundo é o leve, onde a pessoa fica relaxada, o terceiro é o médio, quando a pessoa já perde algumas sensações, o quarto é o profundo, sendo a partir daqui possível a realizações de perguntas, pois o indivíduo já está sem percepções e o quinto e último é o sonambúlico, onde o indivíduo apresenta amnésias e alucinações. Mas é possível que todo mundo chegue aos estágios mais profundos da atividade hipnótica? Não! E é por isso que são realizados testes para observar o nível de aderência das pessoas à hipnose, sendo que segundo dados apenas 10% da população possuem esses níveis altos.



        

         Durante a hipnose, o indivíduo pode exercer diversas atividades cerebrais, inclusive uma conhecida de todo mundo: o efeito scroop. O que seria isso? Bom, vamos começar com a prática: leia as seguintes palavras: VERDE, AMARELO E VERMELHO. Tenho certeza que você confundiu o significado das palavras com a cor das mesmas e é exatamente isso que é o efeito scroop, que pode aumentar ou diminuir durante a hipnose. Logo, é notável que a atividade hipnótica envolve alta atividade cerebral, influenciando o mesmo. Vocês se lembram da monotonia? Pois é, esta atividade também envolve a monotonia, por manter durante um certo tempo o indivíduo sem suas percepções, podendo gerar o tédio.

  TESTE SEU CÉREBRO!!

        Mas e a relação da hipnose com a dor? Calma. Agora entramos no segundo texto, apresentando primeiramente uma problemática da atividade hipnótica: Como saber se as expressões dos pacientes são legítimas ou fruto do inconsciente? Para resolver tal problema, o autor do texto apresenta um método qualitativo para analisar a hipnose e a dor, em detrimento de um meramente quantitativo, que foca em grupos de controle, experimentos e métodos empíricos. É importante mencionar que este último método pode esconder a subjetividade dos indivíduos e de seus contextos.

        Então, o autor propõe o método qualitativo, que daria ênfase no contexto e na construção da realidade do indivíduo e nas interpretações estéticas, relacionadas com a pesquisa e as técnicas, proveniente da individualidade do pesquisado. Para testar tal método, eles utilizam uma paciente chamada Suzana, que sentia dores provenientes de sua doença. Durante a pesquisa, o pesquisador percebe que Suzana possui uma visão negativa do mundo, além de sentir um certo receio com relação aos profissionais da saúde. Com isso, o pesquisador acolheu Suzana de todas as formas, tanto escutando-a quanto lhe contando histórias usando a distorção do tempo, mostrando pra ela que sua história não era feita somente de coisas negativas. Depois de algumas sessões, a mulher relatou alívios na dor, que apesar de provenientes da doença, possuía raízes subjetivas. Logo, o processo hipnótico é importante para demonstrar que a dor não é um fator independente e sim, influenciado por diversos sentimentos dos indivíduos.

        
       Vocês não acham que a hipnose poderia ser uma resposta às emoções destrutivas? Será que ela poderia explicar as motivações que leva uma pessoa a cometer o suicídio? Tendo em vista os textos lidos, afirmo que sim, pois depois de ver o quão a hipnose pode ser poderosa para aliviar até as dores, acredito que ela pode ser o remédio pra muitos dos outros problemas atuais.

                    

  

Referência: FRAGA, I. (2010) hipnose fora do palco, Ciência Hoje, 276, 20-27; NEUBERN, M. S. (2009) Hipnose e dor: proposta de metodologia clínica e qualitativa de estudo. PsicoUSF, 14, 201-209.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

A Patologia do Tédio e o Novo sentido do Tato

         Hoje em dia, a sensação de tédio é comum em nossa sociedade, principalmente entre os mais jovens. Mas o que significa estar entediado? O tédio geralmente se relaciona aos ambientes monótonos, ou seja, onde não há percepções ou estímulos para nossa mente. Logo, quando estamos com tédio, estamos sentindo falta de diversificação no ambiente, estamos procurando atividades distintas para o nosso cérebro, caso contrário nos sentimos como o tal. Como você se sentiria dentro de um ambiente monótono durante horas?


         O texto A Patologia do Tédio relata um experimento realizado por Hebb com alguns jovens que ficam deitados em uma cama 24h por dia, fazendo pausa somente para comer e fazer suas necessidades. Nesse ambiente, eles estavam blindados de todas as formas de percepção, com relação ao tato, audição e visão, impedidos assim, de ativar o funcionamento correto do cérebro. Espera, não entendi, qual a relação entre as percepções e o funcionamento do cérebro? Simples: o correto e total funcionamento do nosso querido cérebro depende da retina, que só é ativada por meio das percepções. Traduzindo: procure evitar a monotonia!


         Vamos comprovar as afirmações acima pelos incríveis e interessantes resultados constatados no experimento. Segundo os jovens, eles não conseguiam pensar em muita coisa quando estavam blindados e quando pensava em uma, não se concentravam nela e, havia momentos em que suas mentes pareciam estar vazias e sem pensamentos. O que te lembra isso? Sim, isso mesmo, um tipo de meditação do nosso querido Öser, o “estado aberto”. E isso acontece comigo e talvez com você frequentemente, quando por exemplo, lemos um texto no computador durante horas. É muito difícil que você pense somente no texto durante toda a leitura, algumas vezes você se pega pensando nos problemas, nos amores ou em qualquer outra coisa que não seja o texto. Além disso, os jovens relataram alucinações e medo de fenômenos sobrenaturais depois de saírem do confinamento! Nossa, a monotonia pode instigar ao medo? É, pelo que tudo indica, sim.

 


         Já no segundo texto, O novo Sentido do Tato, que está totalmente relacionado ao primeiro, o autor relata os benefícios de um sentido não muito estudado e não muito conhecido pelas pessoas. Ai você me diz: “eu sei sobre o tato” sim, você sabe o que o senso comum te diz. Por acaso você sabe que ele pode evitar acidentes de trânsito, aéreos e ainda ser utilizado como auxílio aos deficientes visuais e auditivos?  Pois é, o texto nos diz isso. O tato é pouco conhecido pelas pessoas, mas pode ser muito poderoso na tarefa de evitar situações adversas.
 Vamos conhecer o tato?

         Um dado surpreende: 30% dos acidentes aéreos são causados por desorientação espacial, e tudo isso poderia ser evitado pelo tato, através do macacão táctil, um objeto desenvolvido para o auxílio dos pilotos, que é ativado pelo ar. Entretanto, o seu uso é voltado no texto, somente para aumentar o poderio militar dos países. Isso é ruim? Não, se utilizado para a defesa, por exemplo, mas no texto o poderio militar é reforçado para o uso em guerras, tanto para a defesa quanto para o ataque. No texto o autor fala muito disso, e realmente é assim: as pessoas fazem projetos como esse (macacão táctil) e citam seus benefícios para a população para que eles sejam aprovados, todavia ele é quase que totalmente destinado ao militarismo. 


         Apesar disso, a ideia é muito boa. Será que esse macacão teria evitado o recente acidente no qual intencionalmente o copiloto de um avião matou 150 pessoas? Acredito que sim. Nas outras áreas, como no trânsito, ele poderia ser utilizado na orientação de direita e esquerda, ajudando muitos motoristas, na visão ele poderia ser incorporado como guia táctil e na audição usado como instrumentos táctil durante a infância.

 
 

         Mas qual a relação existente entre os textos? Simples: o estímulo do tato poderia evitar a monotonia, ativando a retina e proporcionando o correto funcionamento do cérebro. E tudo poderia ser melhor, você não acha?

Referência: Schrope, M. (2001). "Simply sensational", New Scientist, 2 de Junho, 30-33; A Patologia do Tédio. Psicobiologia: as bases biologicas do comportamentoRio De Janeiro: LTC.